sábado, 4 de setembro de 2010

A Casa da Barão



Casa azul
Janelas e portas brancas
Coluninhas na varanda
Passagem secreta por dentro do armário
Banheiro preto e rosa cheio de espelhos
Tanque na varanda

Esta é a casa da Barão, onde nasci e morei até quase quatro anos.
Apenas lembranças congeladas, sem vida sem movimento, sem pessoas

Que pena!

50 anos depois..... decidimos vendê-la

Entrei.

Casa velha , vazia, mal cuidada.
Percorri seus espaços . 
Quem sabe ali eu conseguiria me lembrar de mais alguma coisa, cenas, palavras soltas, pessoas andando, sei lá, qualquer coisa que me fosse familiar.
Nada.
  
Onde estavam todos?

Passei a ir lá com frequência, fotografei, curti, acompanhei a obra, deixei de lado todas as lembranças congeladas, a aflição, a vontade de sentir qualquer coisa, qualquer emoção.
Fui vivendo seus espaços , tomando posse daquilo que sempre foi meu, resgatei  remota lembrança.
 enfim....







domingo, 15 de agosto de 2010

O Piano


Impossível ouvir Chopin e não pensar na vovó!



Vovó era brava, rígida, confesso que quando criança eu morria de  medo dela, mas bastava que se sentasse ao piano e.... vovó se transformava, parecia que flutuava com a música, seu corpo balançava como um pêndulo, me hipnotizava era mágico!

Levava-me às aulas de piano, estudava comigo, dava pitos, ralhava "menina olha o ritmo"eu pequena, estremecia.
   
Meu sonho era tocar igual a ela.
Na minha fantasia infantil achava que bastava sentar ao piano e saber balançar o corpo que  tocar seria um mero detalhe.


O tempo foi passando e vovó foi mudando foi ficando mais avó,doce,carinhosa,divertida, ótimo papo,e sempre muito generosa. 


Quando morreu com quase 102 anos, ela não tocava mais,ouvia mal,os dedos doíam e os olhos já não liam as minúsculas notas, mas nada disto importava porque aquele balanço continuava nela e ainda me hipnotizava .

Discretamente sem percebermos e com toda a elegância de sempre, a mágica não existia mais,Vovó e o piano já tinham se tornado uma coisa só.